Imagino a tomada de decisão de uma garota de quatorze anos no ímpeto da
sexualidade: passar batom ou correr para "fazer amor?" Resolver o
dever da escola ou ligar para marcar um encontro às escondidas? Ou nem sempre
assim, talvez tudo seja permitido para uma “menina de 14” de acordo com a educação
que recebeu de seus pais. Menos ser mãe.
Nessa idade presume-se que uma garota
desempenhe apenas o papel de filha e olhe lá se der conta. Para quem estuda em
escola com segmentação de série normal, aos quatorze
anos deve-se frequentar a turma de oitava série.
Sinceramente: o que é possível saber sobre o mundo ou sobre como educar bem um
filho estando com essa idade?
O pior não é isso, é mais grave a manutenção de um filho quando os pais
ainda nem estão inseridos no mercado de trabalho. A menina-mãe tem apenas
uma resposta: “Joga na geladeira esse assunto. Dá um gelo! Bah! É
fácil”. Quando a gente diz: ”Ah, gela, isola” é para esquecer de vez
um problema ou questão que nos incomoda.
Li por esses dias, no jornal, o caso de uma menina de 14 anos, gaúcha de
Santa Catarina, que abandonou seu bebê, em terreno baldio, exposto a uma
temperatura de 1°C sem estar devidamente agasalhado. Ela só teve tempo de
pensar em congelar o problema.
Canso de ouvir os sermões em relação à precoce sexualização de nossas
crianças. Mas é pura demagogia. A TV continua exibindo cenas explícitas de sexo
em horários impróprios, quando os meninos e meninas ainda estão sentados na
sala, sem se preocupar com a repercussão na vida dos adolescentes.
A
internet também contribui. Dia desses ouvi uma mãe contando para outra, num
ponto de ônibus, que pegou a filha de 12 anos mostrando o bumbum
na webcam para um coleguinha do colégio. Ufa! A mãe contou que
quase teve um infarto. E a filha respondeu de forma simples: “Ah, mãe, ele
falou que eu sou uma tábua, eu resolvi mostrar pra ele que eu tenho bunda”.
A webcam foi parar, aos cacos, no lixo.
Porém
ações como essas são isoladas, não resolvem o problema. Há um comércio
inesgotável de injeções para o desenvolvimento da sexualidade. Essas injeções
são as músicas, os filmes, a moda dedicada às adolescentes de bumbum de fora. É
só prestar atenção às letras que tocam por aí no último volume: “Lambe daqui,
dá pressão de lá, dar isso é bom, dar aquilo é bom também" e vão por aí
afora.
Penso
que não adianta quebrar a caixa de som; é necessário investir na educação
sexual. Há muito se fala em incluir no currículo escolar, disciplinas ligadas
ao assunto, para orientar meninas como essa cuja história menciono, que aos 14
faz sexo sem camisinha, engravida e joga o bebê na geladeira social.
A
caixa de sapato é a representação do tamanho do mundo dessa mãe-menina e do
futuro que ela pode dar a seu filho. Um amanhã da extensão de
uma embalagem de sapatos. Quão pequeno! Quão pobre e restrito.
Impressiona
a quantidade de mães-meninas iguais a essa da reportagem, as quais aparecem no
nosso país, com versões absurdas como: “Tive o nenê sozinha!” Não dá para crer
que uma garota com essa idade suporte as dores de um parto e o faça sem o
auxílio de um adulto, ainda mais em se tratando de um bebê com mais de 3
quilos. “Foi a Fada Madrinha que ajudou”, seria a resposta plausível para a
idade da mãe.
O sexo foi, digamos, bom, mas o fruto, desprezado para não
lembrar o ato. Na incapacidade de lidar com o resultado inconsequente do desejo
o recurso é abandonar. Quem ensina a agir assim são os adultos; se as mulheres,
já na idade madura, estão fazendo isso, por que as meninas não o farão? Penso
que educar é dar exemplos bons para serem seguidos.
No caso da jovem de que trato, o mais assustador é a mãe não saber da
gravidez. Como não observar pelo menos as mudanças físicas no corpo da filha? É
importante que a mãe acompanhe a rotina de uma garota de 14 anos. O bebê nasceu
com 3 quilos, o que me leva a pensar que a gravidez da adolescente tenha sido
normal, até o nono mês. Como a mãe não viu o barrigão da mocinha?
Dá pra perceber nessa distância entre mãe filha que não há amor, e
a garota também sente na pele a frieza dos sentimentos maternos. Sem afeto da
mãe, talvez tenha tentado encontrar no sexo o porto seguro de suas emoções.
Contudo, ao fazer essa escolha, ela inconscientemente repetiu a ação: jogou na
geladeira do tempo o filho recém-nascido.
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